quarta-feira, 13 de abril de 2022

OS CÍRIOS SÃO MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS DE FORTE CARIZ POPULAR, POIS TÊM A SUA GÉNESE NA NECESSIDADE SENTIDA PELAS POPULAÇÕES MAIS CARENCIADAS E MAIS SUJEITAS ÀS FORÇAS DA NATUREZA DE PEDIREM A AJUDA DIVINA PARA AS SUAS AFLIÇÕES E, POSTERIORMENTE, PAGAREM AS PROMESSAS QUE NESSE SENTIDO TENHAM FEITO - PRIMEIRA PARTE




OS CÍRIOS SÃO MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS DE FORTE CARIZ POPULAR, POIS TÊM A SUA GÉNESE NA NECESSIDADE SENTIDA PELAS POPULAÇÕES MAIS CARENCIADAS E MAIS SUJEITAS ÀS FORÇAS DA NATUREZA DE PEDIREM A AJUDA DIVINA PARA AS SUAS AFLIÇÕES E, POSTERIORMENTE, PAGAREM AS PROMESSAS QUE NESSE SENTIDO TENHAM FEITO - PRIMEIRA PARTE

Os Círios, as Romagens e os Giros

Os círios são manifestações religiosas de forte cariz popular, pois têm a sua génese na necessidade sentida pelas populações mais carenciadas e mais sujeitas às forças da Natureza de pedirem a ajuda divina para as suas aflições e, posteriormente, pagarem as promessas que nesse sentido tenham feito.

Trata-se de uma herança de antigos cultos agrários e piscatórios, muito anteriores ao calendário católico e que por este foram absorvidos aquando da proibição de todos os outros cultos por ordem de Constantino, no século IV.

Quando essas romagens têm origem em povoações diversas com destino a um determinado santuário, acordam entre si realizarem-nas em anos diferentes de forma cíclica assumindo a designação de giros.

Os santuários, construídos ou imaginários, grandes ou de dimensão reduzida, situam-se de um modo geral em locais de finisterra onde as pessoas se deslocam ciclicamente respondendo a um apelo ancestral sincronizado com o ritmo cósmico da Natureza.

A designação popular de círios resulta do facto dos romeiros transportarem enormes tochas ou velas (os círios) que, de um modo geral, acendem à chegada ao santuário, o que pela noite cria um ambiente especial, envolto em mistério e devoção. Contudo, a designação “círio” dada às romagens estremenhas com destino a cabos ocidentais, as “finisterra”, somente deve remontar à década 30 da era de mil e setecentos.

As deslocações em grupo, deslocações festivas mas igualmente de muita Fé e de grande convivialidade entre as gentes vão aumentando em número de pessoas consoante os quilómetros vão passando pois sempre se juntam novos elementos ao grupo em movimento.

Os círios são manifestações características da região da Estremadura portuguesa donde se destacam aqueles que se dirigem aos santuários de Nossa Senhora do Cabo Espichel, Nossa Senhora da Nazaré, Nossa Senhora da Atalaia (na região do Montijo), Nossa Senhora da Guia, Nossa Senhora da Peninha, Nossa Senhora da Praia (Azenhas do Mar) e Nossa Senhora da Penha de França (em Lisboa).

Na frente dos círios seguem dois anjos, outros autores e pessoas idosas ouvidas referem três anjinhos, vestidos de azul com asas e elmos estilo romano, que cantam loas a Nossa Senhora em diversos pontos do percurso e nas portas das Igrejas por onde passam os círios. Estas loas são muitas vezes escritas por reconhecidos poetas da região ou nascem espontaneamente da devoção popular, umas vezes manuscritas, outras impressos em enormes laudas, como utilizavam os andarilhos cantores de feira de outros tempos, e distribuídos aos participantes nos círios para acompanharem os cânticos dos anjinhos.

A Atlântida e o ancestral apelo da finisterra

Cito Bernardim Ribeiro:

“Dentro neste nosso mar Oceano, que aqui logo perto entra este rio, contam que havia naquele tempo uma ilha tão abundante e tamanha em terras, rica em cavalos, que dali todo o mundo quase senhoreava: Falavam dela maravilhas grandes.” (1)

Bernardim, embora com esta pequena referência, ter-se-á inspirado na imortalizada citação de Platão no Timeu e no Cristias relativa aos herdeiros da civilização semidivina de Um, a Atlântida.

As peregrinações respondendo a um chamamento ancestral das finisterra ocidentais, são por certo reminiscências desse continente que, embora, desaparecido manteve a toponímia, as lendas e os rituais perenes do subconsciente das gentes. As águas vivas terão feito recuar drasticamente a linha de costa, donde a memória do paraíso perdido terá sido a origem do “chamamento” das novas gerações para as terras que mais ficaram avançadas nos mares, as finisterras.

Os iniciados recebiam o segredo ancestral da magia e do mistério que apelavam à veneração.

Uma das finisterras que ainda hoje a quem a visita incute um sentir de mistério e de transcendental envolvimento é o Cabo Espichel, bem perto da não menos sublime serra da Arrábida e em cuja vizinhança Tubal, neto de Noé, fundou Setúbal, ponto de partida para o povoamento de toda a Hispânia, conforme defende Santo Isidro de Sevilha.

Como escreve Manuel de Faria y Sousa no seu livro “Europa Portuguesa”:

“… aportando en el Promontorio Barbarico [como lhe chamaram os romanos] que se chama agora [1678] Cabo Espichel apartado cinco leguas de la garganta del Tajo”. (2)

Quem observa o Mar Atlântico a partir dos miradouros da Reserva Botânica da Mata Nacional dos Medos no topo da Arriba Fóssil da Costa da Caparica, o “arco” natural de mar desde o Cabo Raso e o Monte da Lua até ao Promontório Barbárico, o Cabo Espichel, tem o sentimento nítido de que resulta de um movimento geológico que terá provocado a submersão que muitos autores atribuem à submersão da mítica Atlântida.

Submersão da Atlântida ter-se-á verificado em duas fases distintas, a primeira provavelmente entre 13.000 e 10.000 anos a.C. e a segunda entre 9.000 e 8.000 anos a.C. como defende o cientista russo Nicolas Giroff.

O Santuário de N. Senhora da Pedra Mu ou Mua [Cabo Espichel]

O Santuário de N. Senhora da Pedra Mu ou Mua também conhecido por Santuário de N. Senhora do Cabo situa-se no Cabo Espichel, a ocidente da vila de Sesimbra, é delimitado a sul e oeste pelo Oceano Atlântico e a norte pela estrada nacional 379 e Ribeira dos Caixeiros, Concelho de Sesimbra, Freguesia do Castelo de Sesimbra, Distrito de Setúbal.


Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel

Algumas designações dadas a este Santuário:

Santuário de Nossa Senhora da Pedra Mu ou Mua

Santuário de Nossa Senhora do Cabo (Espichel)

Santuário do Círio do Termo dos Saloios

Santuário de Santa Maria dos Saloios

Santuário da Virgem Negra de Mu

Mosteiro de Nossa Senhora do Cabo (Espichel)

Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel

É constituído, fundamentalmente, pela Igreja Seiscentista e pelas Casas dos Círios, pela Ermida da Memória, pela Casa da Água, pelo Aqueduto do Cabo Espichel e pelo Poço do Santuário, pela Casa da Ópera e pelos Cruzeiros de “Caminho”.

Igreja de Nossa Senhora do Cabo, Casas dos Círios e Cruzeiro

Construção original e de grande simbolismo pois encontra-se de costas para o Oceano Atlântico. A iniciativa da sua construção foi da Casa Real Portuguesa, nomeadamente do Rei Dom Pedro II, devoto de Nossa Senhora do Cabo, no início do século XVIII (1701 a 1707). O imóvel consiste num templo de "estilo chão" que apresenta planta longitudinal composta por retângulos justapostos, correspondentes à nave e à capela-mor, a que se adossam duas torres sineiras e duas sacristias.

O interior encontra-se bem decorado, incluindo paredes revestidas a mármore, bem como frescos e pinturas a óleo de autoria de Lourenço da Cunha. Esculturas de madeira estofada, assentes sobre altas peianhas, representando, do lado do Evangelho, São Pedro (dedicado ao Círio de Palmela), Santa Ana (ao Círio dos Saloios), Nossa Senhora da Conceição (ao Círio de Almada) e Senhor Jesus do Bonfim (ao Círio de Setúbal). No lado da Epístola, as imagens de São Lourenço (ao Círio de Azeitão), São Joaquim (ao Círio dos Saloios), São José (aos Círios de Arrentela e do Seixal) e São João (ao Círio da Caparica).

De cada lado da igreja há uma fila de alojamentos para peregrinos, chamada de Casa dos Círios ou simplesmente Hospedarias que formam o Terreiro no Cabo Espichel, também designado Arraial, ao fundo pode-se avistar um cruzeiro, local onde começa verdadeiramente o Santuário.

Ermida da Memória

A poente da Igreja de Nossa Senhora da Pedra Mu ou Mua e das Casas dos Círios/Hospedarias, (na parte de trás e para o lado direito), a cerca de 100 metros situa-se, sobranceira ao Oceano Atlântico, a Ermida da Memória, também conhecida por Capela da Memória com painéis de azulejos azuis e brancos no seu interior, representando a Lenda da Senhora do Cabo e imagens da construção da Capela.

No exterior encontram-se dois quadros de imagens em azulejo que estão muito degradados e que representam dois peregrinos. Templo quatrocentista construído precisamente no local onde reza a tradição ter-se-á dado a aparição da Virgem. De planta rectangular simples, harmoniosa e proporcional, este pequeno templo é encimado por cúpula boleada com coroa de ressaibos orientalizantes.

Ermida da Memória

Casa da Água

Foi construída em 1770 a mando do Rei Dom José I, tem forma hexagonal, coberta por cúpula em meia-laranja rematada por lanternim, cimalha envolvente, cunhais apilastrados marcando as seis faces. É antecedida por escadaria de vários lanços.

No interior, uma fonte "rocaille" em mármore, com motivos escultóricos ao gosto Berniniano, bancos de pedra ao longo das paredes, restos de um silhar (pedra lavrada e quadrangular, para revestimento de paredes) de azulejo (Fábrica de Belém) com cenas de caça e cenas alusivas aos círios. Tinha como objectivo abastecer de água o Santuário.


Casa da Água

A Casa da Água recebe a água trazida pelo Aqueduto desde a Azóia. Possuí um poço e dois tanques para dar de beber aos animais.

Aqueduto do Cabo Espichel

Aqueduto com uma extensão de cerca de 2,5 quilómetros destinado a trazer a água para a Casa da Água desde Azóia que é a localidade mais próxima.

Aqueduto

Poço do Santuário

Mandado construir por iniciativa régia e dentro do mesmo período cronológico da construção do Santuário (Séc. XVIII).

Poço do Santuário

Casa da Ópera

Mandada edificar em 1770 pelo Círio de Lisboa e iniciativa régia de D. José I, é um imóvel de planta retangular, setecentista, inclui cenários e acomodações para o público e artistas.

Casa da Ópera

Esta Casa tinha por objetivo promover animação cultural para os romeiros e festeiros. A própria família real, que visitava o Santuário durante o período de romaria, também promoveu aqui espetáculos. Aqui chegaram a actuar os maiores artistas e grupos teatrais da Europa, nomeadamente italianos.

Cruzeiros de “Caminho”

Além do cruzeiro principal à entrada do Arraial e que limita verdadeiramente a área do Santuário, existem três outros cruzeiros. O conjunto dos três Cruzeiros foi edificado durante a primeira metade do século XVIII, fazendo parte do circuito de romaria e de peregrinação ao Santuário, acompanhando a principal via de acesso, sendo, portanto, cruzeiros "de caminho".

Cruzeiros de “Caminho”

Devoção a N. Senhora da Pedra Mu ou Mua ou do Cabo Espichel

Há mais 600 anos, cerca de 1410, foi construída uma ermida pelos mareantes, (gentes do mar), para que guardassem uma imagem da Virgem, venerada há muito em cima do rochedo denominado Pedra de Mu ou Mua. À sua volta foram crescendo modestas casas para receber os peregrinos que aqui demandavam. Deu mais tarde (1715) lugar à construção das hospedarias com sobrados e lojas, também conhecidas por Casas dos Círios.

À Senhora do Cabo, designação dada a Santa Maria da Pedra de Mu ou Mua, afluem vários e numerosos grupos de círios (grandes grupos de peregrinos). Foi ao designado Círio dos Saloios (peregrinos das redondezas da capital) que coube o incentivo da construção das Casas dos Círios do Santuário, conforme se pode ler numa lápide junto à porta da igreja:

"Casas de N. Sra. de Cabo feitas por conta do Sírio dos Saloios no ano de 1757 p. acomodação dos mordomos que vierem dar bodo".

O culto a Nossa Senhora do Cabo terá começado no ano de 1212, quando ocorreu o naufrágio de um barco inglês ao largo do Cabo Espichel e a imagem mais antiga representava a “Virgem Negra”.

Sabe-se, contudo, que já na pré-história era este sítio local sagrado, de que se encontram vestígios na Lapa dos Lagosteiros.

As Lendas piedosas que apoiam o mito

Da análise dos relatos lendários - mas com possível base histórica - que nos narram os acontecimentos do Cabo Espichel, podemos distinguir nitidamente duas tradições diferentes: numa primeira lenda, a descoberta da imagem é atribuída exclusivamente a homens da Caparica, na margem sul do Tejo; numa segunda lenda, o achamento é atribuído a dois anciãos de Alcabideche e da Caparica, localidades que de algum modo representam as duas margens do Tejo em que o seu culto virá a adquirir forte expressão popular, também esta lenda com duas versões muito próximas. Uma outra lenda de origem diversa liga o culto de N. Senhora do Cabo ao naufrágio de uma embarcação inglesa.

Iconografia da Lenda

Lenda dos lenhadores da Caparica

Quanto à primeira tradição, Frei Agostinho de Santa Maria narra-a de forma bastante lacónica no seu "Santuário Mariano" (Vol 1, p 474):

“No mar Oceano, para a parte do meio dia a sul da Corte, e Cidade de Lisboa, mete a terra hua ponta, ou despenhada rocha, a que os navegantes chamam o "Cabo de Espichel", e os antigos chamaram Promontório Barbárico (…) Neste sítio sobre a rocha se vê ao presente uma Ermidinha, que se edificou para memória, a que chamam o Miradouro; é tradição constante, que aparecera a imagem de Nossa Senhora que por ser vista naquela rocha, a que chamão Cabo, a denominarão com este título."

E passa a identificar os autores da descoberta:

"Os venturosos", e os que primeiro descubriram este rico tesouro, foram alguns homens da Caparica, que iam aquela serra a cortar lenha; e daqui teve principio serem eles os primeiros também, que a festejassem. Por esta causa vão todos os anos com o seu sirio a solemnizar a sua festa em o primeiro Domingo de Junho (…).”

Lenda do saloio de Alcabideche

Consta que em 1410 um crente da região saloia de Alcabideche, tocado pelo Espírito Santo, lobrigou uma luz que brilhava para lá do mar que ele conhecia. Uma força sobre-humana ergueu-o e o pôs a caminho, levando-o no sentido para que era atraído.

Na sua caminhada, cansado com tamanha jornada, viu cair a noite quando chegava à população de Caparica, alojando-se numa casa que zelosa velha lhe franqueou. Nas conversas que naturalmente tiveram, o saloio revelou-lhe o seu segredo e na sua boa-fé, recolheram aos seus quartos.

Na manhã seguinte, grande foi o espanto do saloio ao constatar que a velha não se encontrava na casa. Não a localizando nas redondezas, pôs-se a caminho e passadas longas horas a caminhar, qual não foi a sua surpresa, chegado ao almejado lugar, deparou com a velha rezando junto da gruta onde se encontrava a pequenita imagem de Nossa Senhora. Logo ali o saloio prometeu construir uma pequena capela em honra de Nossa Senhora.

Lenda do homem de Alcabideche e da mulher da Caparica

Conta a lenda que um homem de Alcabideche e uma mulher da Caparica terão tido um sonho em simultâneo que os levou a caminhar para o “Promontório Barbárico” na procura de encontrarem a Virgem sonhada. Fizeram a caminhada sem saberem um do outro.

Encontraram-se então perante a Virgem que apareceu na praia montada numa mula que, ao trepar as rochas, deixou marcadas as suas patas [hoje sabe-se serem vestígios de pegadas de dinossáurios]. Em homenagem à Virgem, foi edificada, nesse mesmo local, uma ermida a que chamaram “da Pedra Mua”.

O velho de Alcabideche
E a velha da Caparica
Foram à Rocha do Cabo

Acharam prenda tão rica.

[quadra popular]

Lenda do naufrágio no barco inglês

No ano de 1215, reinava em Portugal D. Afonso II.

Um ou mais dos sobreviventes do naufrágio de um barco inglês ao largo do Cabo Espichel, após a grande tempestade que se abateu sobre a embarcação, vislumbraram uma luz que irradiava na encosta do Cabo, a qual irresistivelmente os atraiu para o local. Lá chegados depararam-se com a lindíssima imagem que havia antes estado entronizada no seu altar a bordo do barco naufragado.

Regressados à Inglaterra, um deles prometeu fazer erguer no local da aparição uma pequena ermida que guardasse tão abençoada imagem, a qual havia ficado naquele mesmo lugar numa gruta, protegida por arbustos e outras defesas naturais. Ou mesmo construíssem uma ermida e nela guardassem a abençoada imagem e nela passassem a viver.

Assim descreve Frei Agostinho de Santa Maria na sua obra “Santuário Mariano…”

“Cerca de 1215 pouco mais ou menos […] uma nau em direitura a Lisboa, no fim de alguns dias estando já na altura de Lisboa, não longe da costa lhe anoiteceu, e com uma cerração tão obscura que todos se davam como perdidos. A cada instante julgavam tocar em um baixo ou despedaçar-se a nau naquela brava costa; porque além de serem pouco versados nela com a grande obscuridade da noite não sabiam onde estavam, nem ainda que soubessem, lhes podia aproveitar pelo desmalado furor dos ventos, e braveza dos mares, que não deixavam que a nau obedecesse ao leme. Todos os que vinham nesta nau eram cristãos e católicos, como o eram então os Ingleses e entre eles vinha um Religioso Eremita de meu Patriarca São Agostinho chamado Haildebrant [Hildebrando], que devia ser Capelão da nau, ou de um fidalgo, que também ali vinha, chamado Dom Bartolomeu. Trazia este bom Religioso consigo uma Imagem de Nossa Senhora, com que tinha especial devoção […] a foi buscar ao seu camarote para se recomendar a ela, e pedir-lhe que lhe valesse, e a todos os mais que vinham na nau. Mas não a achou no lugar em que a trazia […]. Começou a dar vozes ao céu para que lhe valesse naquele grande aperto […]. Eis que de improviso viram em um alto uma grande luz, que no meio daquela escura noite lhe alumia a nau e viram como o podiam fazer com a luz do sol em um dia claro".

E conclui Frei Agostinho de Santa Maria mais adiante:

“[…] Consideraram que o achar-se a Santa Imagem em aquele lugar milagrosamente era mostrar-lhe que tinha feito eleição dele, e que ali queria ser venerada e assim se resolveram a não tirar daquele sítio sendo o principal voto desta deliberação o do nosso eremita Haildebrant [Hildebrando] (3), de quem era a Santa Imagem. E para que ficasse decentemente naquele lugar, com esmolas que juntou dos companheiros, e com licença do Bispo de Lisboa, lhe edificou boa Ermida em o mesmo lugar, e junto a ela uma cela, ou aposento para si, e para Dom Bartolomeu, que o quis acompanhar naquela solidão tão áspera […].”


NOTAS: (1)  In "Menina e Moça", Parte II, Capítulo I

             (2) SOUSA, Manuel Faria e - "Europa Portuguesa", Volume I, Parte I, Capítulo IX,                 p92, Segnda Edição, 1678

            (3) De salientar que o nome do eremita Haildebrant é uma derivação do de São                    Brandão, reputado monge, cujo nome está ligado intimamente ao Círio dos Saloios a             N. Senhora do Cabo na entrada do mesmo na margem Sul do Tejo [> Porto Brandão]


[CONTINUA]

            

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