segunda-feira, 27 de julho de 2020

NUMA TERRA ÁRIDA E SECA – TERRAS DE CHARNECA – UM OÁSIS DE ÁGUAS MEDICINAIS – I-Águas do Vale da Rosa em Tempos Remotos


Águas de características mineromedicinais comprovadas que foram sucesso como água engarrafada de qualidade superior e foram milagrosas na “cura da lepra e de doenças de pele” desde tempos remotos
ÁGUAS DO VALE DA ROSA EM TEMPOS REMOTOS
Num vale talhado entre dois montes que a vista não alcança mais além, em terras que se designam em tempos idos por Robalo e ainda hoje mantém essa designação uma povoação situada a poente, a uma légua de Almada para sul, muito para lá da rocha que bordeja a linha dourada do Grande Areal em mais de 15 quilómetros, para o lado do Nascente, fica um imenso território ermo, sem sinal de vivência humana.
É nestas terras de ninguém que os religiosos da Ordem de São Paulo Primeiro Eremita fundam uma albergaria a que dão o nome de Convento da Cella-Nova (ou Convento do Robalo, que é o mesmo) decorre o ano de 1414 e mais tarde toma o nome de Convento de Nossa Senhora da Rosa.
Construído sobre um importante lençol freático, é abundante a água que brota livremente de diversas minas ou fontes e a que são atribuídas qualidades milagrosas com a virtude de curar a lepra e doenças de pele, assim como males de fígado e de estômago. Na invernia corre um fio de água (quantas vezes de enxurrada) até ao mar Atlântico onde vai desaguar. Quando a maré está de enchente e o mar mais agitado o sentido das águas inverte-se formando um esteiro que entra terra dentro cerca de dois a três quilómetros.
Sistema de Águas dos Casais da Charneca © Google 2015
Desde os tempos mais remotos é referenciada a existência de três fontes de água mineromedicinais todas situadas num aprazível e verdejante vale, o Vale da Rosa
um vale profundo que dele não se dilata a vista mais que a dos montes circunvizinhos
onde corre um ribeiro, outrora referenciado como esteiro do mar Atlântico, que actualmente (2020) serve de fronteira natural entre as freguesias de Caparica (União das Freguesias de Caparica e Trafaria) e de Charneca de Caparica (União das Freguesias de Charneca de Caparica e Sobreda). Uma concentração de tão elevado número de fontes pressupõe, desde logo, a existência no local de importante lençol freático que em tempos serviu para captação das águas para abastecimento público da Charneca de Caparica.
As três fontes ou minas de água referidas são:
A Mina de Água ou “Fonte” de Nossa Senhora da Rosa (ou do Esteiro, ou de Santa Luzia)
A Mina de Água ou “Fonte” do Convento Paulista
Fonte da “Telha” do Vale da Rosa
cujas águas são indicadas para o aparelho digestivo e rins (Contreiras, 1951) [1].
Mina de Água ou “Fonte” de Nossa Senhora da Rosa [2]
Designada igualmente por “Fonte do Esteiro” e no dizer popular chamada “Fonte de Santa Luzia” atendendo as qualidades medicinais no tratamento dos olhos. Referenciada como milagrosa e com virtude de curar a lepra [3]. Situa-se na cerca do Convento de N. Senhora da Rosa dos Religiosos da Ordem de São Paulo Primeiro Eremita a uma légua de distância da Vila de Almada.
As pessoas mais antigas ainda contam que ouviram contar a seus avós que as gentes das redondezas desta fonte lhe chamavam, igualmente, “Fonte Santa” e lhe atribuíam o milagre de curar as maleitas dos olhos dos mais pequeninos. Recordam mesmo o ritual de pendurarem nos vimes que existiam na zona os trapinhos com que embebidos em água (santa) limpavam os olhos doentes. Quando os trapinhos ficassem secos os olhos estariam curados.
Mina de Água ou “Fonte” de Nossa Senhora da Rosa
Mina de Água ou “Fonte” do Convento Paulista
Situa-se a curta distância do local onde teria existido o Convento de N. Senhora da Rosa dos Religiosos da Ordem de São Paulo Primeiro Eremita. Os populares também a designavam por Mina de Água ou “Fonte” da Rosa.
Esta fonte encontra-se num lote em avos onde foi construída uma casa clandestina na segunda metade do século XX.
Mina de Água ou “Fonte” do Convento Paulista
Fonte da Telha do Vale da Rosa
Situa-se próximo do Convento de Nossa Senhora da Rosa dos Religiosos da Ordem de São Paulo Primeiro Eremita, num silvado junto à ribeira, e na direcção da Foz do Rego.
No que concerne à Fonte da Telha, que de topónimo semelhante nada tem a ver com a aldeia piscatória localizada a sul do concelho de Almada, é por certo uma outra emergência do mesmo aquífero, na escavação de um declive de terreno, tendo assim sido denominada por correr a água por uma telha ali colocada. É água muito procurada pelos populares pelos seus efeitos digestivos. Um utilizador desta água afirma
Esta água tem muita argila, eu dou-me bem com ela, como é água de nascente dá muito boa disposição. Agora já há uns tempos que cá não vinha. Mas por exemplo às vezes tinha assim uma azia de estômago e bebia e passava logo.”[5]
Referências
[1] - CONTREIRAS, Dr. Ascensão – MANUAL HIDROLÓGICO DE PORTUGAL – Empresa Nacional de Publicidade, Lisboa, 1951
[2] - COSTA, Padre António Carvalho da – COROGRAFIA PORTUGUEZA E DESCRIPÇAM TOPOGRAFICA DO FAMOSO REYNO DE PORTUGAL, Officina Real Deslandesiana, Lisboa, 1712, Tomo III, p. 318
[3] - HENRIQUES, Francisco Fonseca (Dr. Mirandela) – AQUILÉGIO MEDICINAL – Oficina da Musica, Lisboa Ocidental, 1726, Cap. III Das fôtes frias, CLXXIV Fonte de Almada, p. 186
[4] - COSTA, Padre António Carvalho da – COROGRAFIA PORTUGUEZA E DESCRIPÇAM TOPOGRAFICA DO FAMOSO REYNO DE PORTUGAL, Officina Real Deslandesiana, Lisboa, 1712, Tomo III, p. 318
[5] - AQUILÉGIO DIGITAL – Águas Termais (Para ingestão) – http://www.aguas.ics.ul.pt/setubal_frosa.html - Visitado em 23 de Outubro de 2016
© Victor Reis, 20110301 [Oficina das Ideias] [Olho de Lince] [Histórias da História da Charneca de Caparica] [20200726]
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