Águas de
características mineromedicinais comprovadas que foram sucesso como água
engarrafada de qualidade superior e foram milagrosas na “cura da lepra e de
doenças de pele” desde tempos remotos
ÁGUAS DO VALE DA
ROSA EM TEMPOS REMOTOS
Num vale talhado
entre dois montes que a vista não alcança mais além, em terras que se designam
em tempos idos por Robalo e ainda hoje mantém essa designação uma povoação
situada a poente, a uma légua de Almada para sul, muito para lá da rocha que
bordeja a linha dourada do Grande Areal em mais de 15 quilómetros, para o lado
do Nascente, fica um imenso território ermo, sem sinal de vivência humana.
É nestas terras
de ninguém que os religiosos da Ordem de São Paulo Primeiro Eremita fundam uma
albergaria a que dão o nome de Convento da Cella-Nova (ou Convento do Robalo,
que é o mesmo) decorre o ano de 1414 e mais tarde toma o nome de Convento de
Nossa Senhora da Rosa.
Construído sobre
um importante lençol freático, é abundante a água que brota livremente de
diversas minas ou fontes e a que são atribuídas qualidades milagrosas com a
virtude de curar a lepra e doenças de pele, assim como males de fígado e de
estômago. Na invernia corre um fio de água (quantas vezes de enxurrada) até ao
mar Atlântico onde vai desaguar. Quando a maré está de enchente e o mar mais
agitado o sentido das águas inverte-se formando um esteiro que entra terra
dentro cerca de dois a três quilómetros.
Sistema
de Águas dos Casais da Charneca © Google 2015
Desde os tempos
mais remotos é referenciada a existência de três fontes de água
mineromedicinais todas situadas num aprazível e verdejante vale, o Vale da Rosa
“um vale
profundo que dele não se dilata a vista mais que a dos montes circunvizinhos”
onde corre um ribeiro,
outrora referenciado como esteiro do mar Atlântico, que actualmente (2020)
serve de fronteira natural entre as freguesias de Caparica (União das
Freguesias de Caparica e Trafaria) e de Charneca de Caparica (União das
Freguesias de Charneca de Caparica e Sobreda). Uma concentração de tão elevado
número de fontes pressupõe, desde logo, a existência no local de importante
lençol freático que em tempos serviu para captação das águas para abastecimento
público da Charneca de Caparica.
As três fontes
ou minas de água referidas são:
A Mina de Água
ou “Fonte” de Nossa Senhora da Rosa (ou do Esteiro, ou de Santa Luzia)
A Mina de Água
ou “Fonte” do Convento Paulista
Fonte da “Telha”
do Vale da Rosa
cujas águas são
indicadas para o aparelho digestivo e rins (Contreiras, 1951) [1].
Mina de Água ou “Fonte” de Nossa Senhora da Rosa [2]
Designada
igualmente por “Fonte do Esteiro” e no dizer popular chamada “Fonte de Santa
Luzia” atendendo as qualidades medicinais no tratamento dos olhos. Referenciada
como milagrosa e com virtude de curar a lepra [3]. Situa-se na cerca do
Convento de N. Senhora da Rosa dos Religiosos da Ordem de São Paulo Primeiro
Eremita a uma légua de distância da Vila de Almada.
As pessoas mais
antigas ainda contam que ouviram contar a seus avós que as gentes das
redondezas desta fonte lhe chamavam, igualmente, “Fonte Santa” e lhe atribuíam
o milagre de curar as maleitas dos olhos dos mais pequeninos. Recordam mesmo o
ritual de pendurarem nos vimes que existiam na zona os trapinhos com que
embebidos em água (santa) limpavam os olhos doentes. Quando os trapinhos
ficassem secos os olhos estariam curados.
Mina
de Água ou “Fonte” de Nossa Senhora da Rosa
Mina de Água ou “Fonte” do Convento Paulista
Situa-se a curta
distância do local onde teria existido o Convento de N. Senhora da Rosa dos
Religiosos da Ordem de São Paulo Primeiro Eremita. Os populares também a
designavam por Mina de Água ou “Fonte” da Rosa.
Esta fonte
encontra-se num lote em avos onde foi construída uma casa clandestina na
segunda metade do século XX.
Mina
de Água ou “Fonte” do Convento Paulista
Fonte da Telha do Vale da Rosa
Situa-se próximo
do Convento de Nossa Senhora da Rosa dos Religiosos da Ordem de São Paulo
Primeiro Eremita, num silvado junto à ribeira, e na direcção da Foz do Rego.
No que concerne
à Fonte da Telha, que de topónimo semelhante nada tem a ver com a aldeia
piscatória localizada a sul do concelho de Almada, é por certo uma outra
emergência do mesmo aquífero, na escavação de um declive de terreno, tendo
assim sido denominada por correr a água por uma telha ali colocada. É água
muito procurada pelos populares pelos seus efeitos digestivos. Um utilizador
desta água afirma
“Esta água tem
muita argila, eu dou-me bem com ela, como é água de nascente dá muito boa
disposição. Agora já há uns tempos que cá não vinha. Mas por exemplo às vezes
tinha assim uma azia de estômago e bebia e passava logo.”[5]
Referências
[1] - CONTREIRAS, Dr. Ascensão –
MANUAL HIDROLÓGICO DE PORTUGAL – Empresa Nacional de Publicidade, Lisboa, 1951
[2] - COSTA, Padre António
Carvalho da – COROGRAFIA PORTUGUEZA E DESCRIPÇAM TOPOGRAFICA DO FAMOSO REYNO DE
PORTUGAL, Officina Real Deslandesiana, Lisboa, 1712, Tomo III, p. 318
[3] - HENRIQUES,
Francisco Fonseca (Dr. Mirandela) – AQUILÉGIO MEDICINAL – Oficina da Musica,
Lisboa Ocidental, 1726, Cap. III Das fôtes frias, CLXXIV Fonte de Almada, p.
186
[4] - COSTA,
Padre António Carvalho da – COROGRAFIA PORTUGUEZA E DESCRIPÇAM TOPOGRAFICA DO
FAMOSO REYNO DE PORTUGAL, Officina Real Deslandesiana, Lisboa, 1712, Tomo III,
p. 318
[5] - AQUILÉGIO
DIGITAL – Águas Termais (Para ingestão) –
http://www.aguas.ics.ul.pt/setubal_frosa.html - Visitado em 23 de Outubro de
2016
© Victor Reis, 20110301 [Oficina
das Ideias] [Olho de Lince] [Histórias da História da Charneca de Caparica]
[20200726]
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16/2008, de 1 de Abril [Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos]
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