sexta-feira, 3 de julho de 2020

OS CABAZEIROS DA CHARNECA


Foi por certo para fugir à dureza do trabalho dos campos que alguém com mais imaginação e destreza manual se lançou na arte de fazer entrançados cabazes de canas, que as havia muitas nos imensos canaviais da Charneca.
Este trabalho de artesão que se realiza no seio de um número reduzido de famílias charnequenses – a dos “Rego”, a dos “Taleigo” e poucas mais – ganha dimensão significativa e importância no rendimento familiar quando os cabazes começam a ser vendidos para Lisboa, para os laboratórios da indústria farmacêutica que os utilizam como embalagem dos medicamentos para exportação.
Também eram utilizados para conter frutos, especialmente figos e amoras, vendidos nas ruas do Monte de Caparica e da Cova da Piedade.
 Os cabazeiros João do Rego e o Narsindo do Rego [imagem @CRF]
Cabazeiros da Charneca
No Botequim: o João do Rego e o Narsindo do Rego [f. em 2019 com 89 anos] (tios da Isabel Henriques) e o Ti Casimiro (avô da Helga).
Na Quinta da Bica: o Joaquim do Rego.
Em Palhais: o João Taleigo (pai), o José Filipe Taleigo (filho, sogro da Ivone Silva, pai do Victor Manuel Ribeiro da Silva – trabalhador da JF), o Fernando Taleigo [avô de Otília Alves) e o João Taleigo; o Rui do Rego morava na Casa da Carreta; o Francisco Carvalho (perto da Electro Rei).
No Casal: o António do Rego
Fazem-se cabazes de asas torcidas e de variados formatos, cabazes propriamente ditos e canoas de diversos tamanhos (os nºs 1, 2 e 3). Os maiores são mandados para Lisboa e os cabazes mais pequenos utilizados para acondicionarem amoras, medronhos, figos e cachos de uva que são vendidos porta-a-porta ou nos mercados da Costa de Caparica, Cova da Piedade e de Cacilhas.
O fabrico de cabazes tem à época tamanha importância local que a empresa “Camionetes Piedense” que servia transportes públicos à população da Charneca com ligação a Cacilhas resolve colocar depois de 1953 neste percurso o carro 29, uma Berliet carroçada em França e que dispõe de uma ampla bagageira no tejadilho adequada ao transporte dos referidos cabazes com destino a Lisboa, via Cacilhas.

Fases do fabrico dos cabazes
1 – Descascar as canas
2 – Abrir as canas ao meio
3 – Pôr as canas de molho dentro de água
4 – Cortar ao meio a meia-cana e bater (normalmente com uma pedra)
5 - Colocar as canas em paralelo
6 – Entrelaçar com canas mais finas
7 – Fazer os fundos com as canas mais fininhas entrelaçadas
8 – Fazer as asas
9 – Rematar
Imagens: Cabazeiros @CRF; Cabaz de cana @Olho de Lince
© Victor Reis, 20110311 [Oficina das Ideias] [Histórias da História da Charneca de Caparica] [Quotidiano de um Povo] [20200704]

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